Para cultivar a perseverança e a cooperação em suas equipes, os líderes devem promover um ambiente que cultive três emoções fundamentais.
Como líder, quais características você deve cultivar em seus funcionários? Coragem — a capacidade de perseverar diante de desafios? Claro. A disposição de fazer alguns sacrifícios e trabalhar duro para um futuro de sucesso é essencial para os membros de qualquer equipe. Mas acredito que há outro componente tão importante quanto esse: a graça. Não me refiro à capacidade de andar de forma elegante nem a algo religioso. Me refiro às qualidades de decência, respeito e generosidade, que fazem com que uma pessoa seja fácil de lidar.
Considere os resultados do Projeto Oxygen da Google, uma iniciativa de pesquisa de vários anos, projetada para identificar as qualidades do gestor que aumentaram o sucesso de uma equipe. Eles descobriram que fazer com que uma equipe seja produtiva e orientada para resultados é, sim, importante. Mas também é importante ser equilibrado, ter disponibilidade para reuniões individuais, trabalhar com uma equipe no front para resolver problemas, e se interessar pela vida social dos funcionários. De fato, quando se tratava de prever o sucesso, essas qualidades de “caráter” superaram o empenho e a experiência técnica.
Faz sentido. A inovação geralmente requer esforço em equipe. A experiência necessita de cooperação para resolver problemas. E a cooperação exige uma disposição para compartilhar o crédito e para o apoio mútuo, em vez de tentar levar todo o crédito para si mesmo.
Então, como gestor, qual é a melhor maneira de instigar coragem e graça em sua equipe? Minha pesquisa mostra que é preciso cultivar três emoções específicas: gratidão, compaixão e orgulho.
Essas três emoções não só aumentam a paciência e a perseverança, mas também criam vínculos sociais. Na maior parte da história evolutiva humana, a capacidade de sucesso se escorou quase inteiramente na capacidade de formar relacionamentos. As pessoas precisavam ser honestas, justas e diligentes — qualidades que exigem uma disposição de inibir o desejo egoísta de lucrar à custa dos outros. E foram emoções morais como a gratidão, a compaixão, e o orgulho autêntico que motivaram essas ações.
Por exemplo, a pesquisa mostrou que, quando as pessoas se sentem agradecidas, ficam dispostas a fazer mais esforço para ajudar os outros, serem leais mesmo com um custo para si próprios, e dividir os lucros de forma igualitária com os parceiros em vez de ficar com mais para si mesmas. Quando sentem compaixão, ficam dispostas a dedicar tempo, esforço, e dinheiro para ajudar os outros. E quando se sentem orgulhosas – um orgulho autêntico baseado em suas habilidades, em oposição a um orgulho arrogante – trabalham mais para ajudar os colegas a resolver problemas. E todos esses comportamentos atraem os outros. As pessoas que expressam gratidão, compaixão e orgulho são vistas positivamente por aqueles que as rodeiam.
Essas emoções também desenvolvem a coragem. Elas aumentam o valor que as pessoas colocam em metas futuras, comparadas com as do presente, e assim pavimentam o caminho para a perseverança. O trabalho do meu laboratório, por exemplo, mostra que as pessoas induzidas a se sentirem gratas são duas vezes mais pacientes quando se trata de recompensas financeiras. Elas são duas vezes mais dispostas a renunciar a um lucro imediato menor para que possam investir em um ganho de longo prazo. Na mesma linha, as pessoas que sentem orgulho ou compaixão estão dispostas a perseverar em tarefas desafiadoras 30% mais do que aqueles que sentem outras emoções positivas, como a felicidade, precisamente porque o orgulho e a compaixão os induzem a colocar maior valor em recompensas futuras.
Ao contrário da força de vontade pura e simples, usar essas emoções também ajuda a resolver um problema cada vez mais comum na vida profissional: a solidão. Hoje, a solidão se tornou uma epidemia nos EUA, com 53% dos trabalhadores americanos relatando regularmente que se sentem isolados em suas vidas públicas – um imenso problema dado o impacto da solidão na saúde física e mental. Sentir gratidão, compaixão e orgulho regularmente cria conexões sociais, porque essas emoções fazem com que as pessoas se comportem de maneira mais coletiva e solidária. Por exemplo, as pessoas designadas para participar de intervenções simples para sentir e expressar gratidão demonstram, ao longo do tempo, mais sentimentos de conexão social e satisfação com os relacionamento.
Devido à relação entre essas emoções e a coragem e a conexão social, os gestores que cultivam a gratidão, a compaixão e o orgulho em suas equipe perceberão um aumento na produtividade e no bem-estar de seus funcionários. Por exemplo, Adam Grant e Francesca Gino investigaram a perseverança em um dos ambientes mais marcados pela rejeição: a captação de recursos. Ao longo de duas semanas, eles registraram o número de ligações que os captadores de recursos fizeram para solicitar doações para uma universidade. Entre a primeira e a segunda semana, no entanto, metade dos captores de recursos receberam uma visita do diretor de doações da universidade, que expressou gratidão pelo trabalho. Para se ter uma ideia de como isso afetou os captadores de recursos, Gino e Grant pediram que eles relatassem quão valorizados por seus superiores eles se sentiram.
Na primeira semana do estudo, o desempenho médio de ambos os grupos foi praticamente o mesmo, mas, na segunda semana, os que receberam a mensagem de gratidão aumentaram o esforço de captação de recursos em 50%. O que é particularmente interessante aqui é a maneira como os benefícios da gratidão e do orgulho podem se auto-alimentar. Em outro estudo sobre captação de recursos, Grant e Amy Wrzesniewski descobriram que a gratidão expressada pelos gestores para seus empregados alimentou o orgulho dos funcionários, o que, por sua vez, reforçou sua dedicação.
A compaixão também aumenta a dedicação. Pesquisando mais de 200 pessoas que trabalhavam em unidades diferentes em uma grande instalação de cuidados prolongados, Sigal Barsade e Mandy O’Neil descobriram que aqueles que trabalhavam em unidades caracterizadas por um maior sentimentos de apego social, confiança, aceitação e apoio – uma combinação que também poderia ser chamada de empatia e compaixão – não só mostrou desempenho e compromisso superiores, mas também aumentou a satisfação no trabalho, diminuiu a exaustão e o menor absenteísmo.
Gratidão, compaixão e orgulho nos tornam mais dispostos a cooperar e a investir nos outros. Mas, como tais façanhas são obtidas aumentando o valor que a mente coloca em ganhos futuros, eles também nos estimulam a investir em nosso próprio futuro. Assim, eles fazem com que as equipes e os indivíduos que as compõem sejam mais bem-sucedidos e resilientes.
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*David DeSteno é professor de psicologia da Northeast University e autor de “Emotional Success: The Power of Gratitude, Compassion, and Pride”.
Uma versão deste artigo foi publicada na edição digital da Harvard Business Review, no dia 5 de abril de 2018. Fonte: https://hbrbr.uol.com.br/cultive-gratidao-equipe/
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