O que faz com que os seus funcionários continuem trabalhando na sua empresa? E quais os fatores que colaboram para que novos candidatos tenham interesse em atuar nela? Ingenuamente, você pode até pensar que é pelo salário, mas é muito mais do que isso.
O ranking das 150 Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil de 2019 do Great Place to Work constatou que os principais fatores que garantem a permanência de um profissional em uma empresa são:
· Oportunidades de crescimento;
· Melhor qualidade de vida;
· Identificação com os valores da empresa.
Remuneração e benefícios, em quarto lugar, foi a resposta de menos de um quarto dos entrevistados. Isso significa dizer que as pessoas, mais do que ganhar bem, almejam se desenvolver no ambiente onde trabalham. Querem crescer. Em outras palavras, pagar bem não é garantia de que uma empresa tem boa capacidade de retenção dos seus profissionais. Só isso não basta.
Basicamente, se queremos atrair os profissionais necessários e manter vinculados à empresa aqueles que efetivamente contribuem, devemos ter uma coisa em mente: é fundamental alinhar as expectativas entre o que a empresa propõe e o que os funcionários e candidatos esperam dela. Há uma ferramenta para fazer isso: a EVP (Employee Value Proposition), ou Proposta de Valor para o Funcionário, na tradução para o Português.
A EVP representa tudo o que a empresa proporciona aos seus funcionários em troca de tempo, esforço e contribuições investidos ao desempenhar suas atividades no ambiente de trabalho. Ela é a maneira da empresa criar uma boa imagem no mercado, o que ajudará a atrair os talentos de que ela precisa.
Por conta disso, a empresa pode dar respostas aos funcionários e aos candidatos para as seguintes perguntas:
· Por que vale a pena trabalhar nesta empresa?
· Qual é o diferencial que esta empresa tem a oferecer?
· Quais fatores tornam esta empresa um bom lugar para se trabalhar?
Respondê-las dará formato à estratégia de EVP da empresa para desenvolver um pacote exclusivo de recompensas, reconhecimento e vantagens, tornando-a única no mercado. Isso permite que ela possa atrair e reter os profissionais de que necessita. É a base do que se estabelece como Marca Empregadora (Employee Branding) – sua reputação no mercado de trabalho.
Contudo, é importante destacar que a EVP não está relacionada apenas às remunerações e aos benefícios. Ela se vincula a um equilíbrio percebido entre as formas tangíveis e intangíveis de recompensas e reconhecimento, conforme ilustra a figura 1.
Assim, a proposta de valor deve fortalecer e melhorar a experiência do funcionário com seu trabalho, reforçando a conexão com a empresa. Seus componentes estão divididos nos seguintes tipos:
· Formas de recompensas econômicas: é o conjunto de formas de remuneração direta e indireta, entre salários, benefícios, bônus e premiações por desempenho, de forma a ser atraente e competitiva no mercado de trabalho;
· Formas de recompensas experienciais: são as ações que a empresa realiza que proporcionam aos funcionários experiências e percepções enriquecedoras que os vinculam ao ambiente de trabalho, dentro e fora da empresa, desde oportunidades de carreira e crescimento profissional, além de programas de qualidade de vida, bem-estar físico, emocional e social;
· Formas de recompensas emocionais: são de caráter intangível e influenciam no comprometimento e engajamento dos funcionários e estão relacionadas ao senso de propósito da empresa, à sua cultura organizacional, ao conjunto de princípios e valores e à percepção de reconhecimento e valorização profissional por meio das lideranças da empresa.
Ações que envolvem o desenvolvimento de trilhas de carreira, remuneração atrelada a desempenho, investimentos em treinamento e desenvolvimento, compliance e transparência na gestão, imagem e reputação da empresa no mercado, programas de bem-estar físico, mental, social e emocional, entre outras, são exemplos que podem derivar da definição da EVP da empresa.
Para quais empresas é indicada o estabelecimento de uma EVP? Para todas!
Empresas que lidam com ambientes de alta concorrência, de mudanças tecnológicas intensas e de alterações radicais em seus produtos e serviços tendem a adotar a EVP. Por essas e outras razões, o número de empresas que adotam a EVP tem aumentado.
Numa escala evolutiva de implantação da EVP, podemos encontrar quatro estágios de empresas:
· Estágio 1: empresas que têm um conjunto de recompensas tangíveis e intangíveis, mas não comunicam adequadamente aos seus funcionários, que precisam identificar e entender por si próprios;
· Estágio 2: empresas que apresentam um conjunto integrado de políticas de reconhecimento e recompensa com políticas de contratação e desenvolvimento de funcionários, tendo objetivos claros e formais para cada um;
· Estágio 3: empresas que, já tendo passado pelo Estágio 2, sabem comunicar de forma clara e convincente sua EVP a funcionários e candidatos;
· Estágio 4: empresas que conseguem implantar ações, comunicar de forma eficaz e ainda se diferenciar de outras empresas concorrentes estão nesse estágio. Empresas no estágio 4 conseguem personalizar sua EVP para segmentos críticos de sua força de trabalho, gerando maior identificação e engajamento de seus funcionários. Além disso, conseguem medir a eficácia de seus programas de reconhecimento.
As empresas que conseguem atrelar a EVP à sua marca empregadora têm apresentado desempenho econômico diferenciado em relação à concorrência, além de uma vantagem competitiva de difícil imitação no mercado. Elas são vistas como marcas fortes por seus funcionários.
A receita de sucesso dessas empresas é respeitar a ordem da frase de Proposta de Valor para os Funcionários: elas começam entendendo os colaboradores (suas expectativas quanto à empresa); depois, definem e entregam formas de recompensas e reconhecimento com valor verdadeiro para seus funcionários; e, por fim, conseguem transmitir com maestria uma proposta clara e convincente dos motivos pelos quais, de fato, dedicam sua atenção a cuidar das pessoas.
Gerar valor está atrelado à percepção. E, no caso da EVP, essa percepção deve ser captada e compreendida em relação aos funcionários da empresa.
Como isso é feito na sua empresa? Está clara qual é a proposta de valor a ser apresentada aos seus funcionários?
Luciano Lamb é mestre em Estratégia, especialista em RH, consultor da Sinerplan Estratégias para Pessoas e professor.