Compreender quais são as principais tendências do mercado de trabalho pode ajudar sua empresa a se tornar mais eficaz, produtiva e principalmente, mais humana, o que pode fazer muita diferença para atrair ou reter os melhores talentos. Nesse sentido, confira abaixo três fortes tendências de Recursos Humanos para 2020.
Employee experience
Uma pessoa passa, pelo menos, 90 mil horas de sua vida trabalhando. Se durante boa parte desse tempo ela estiver insatisfeita, frustrada ou estressada, certamente não dará o melhor de si para a empresa. Por conta disso, é fundamental sua empresa investir em experiências positivas para seus funcionários, ou seja, apostar em employee experience.
Como fazer isso? O primeiro passo é a sua empresa definir e comunicar claramente sua Proposta de Valor para os Funcionários (EVP), de forma que possa atrair e manter aqueles profissionais que se identificam com o propósito da organização – afinal, cada vez mais, as pessoas preferem trabalhar em empresas com propostas de valor nas quais acreditam, especialmente os profissionais das gerações Y e Z.
A partir daí, de acordo com esse propósito, sua empresa precisa implantar políticas de valorização, capacitação e desenvolvimento contínuo dos seus colaboradores. Ações de endomarketing e comunicação interna podem ajudar muito nesse processo de engajamento e consolidação da cultura da empresa.
É válido destacar ainda que, na Era Digital em que todos estão conectados o tempo todo, um colaborador satisfeito vai usar as redes sociais para divulgar a sua satisfação com a empresa em que atua, ajudando a sua organização a atrair os melhores talentos.
Tecnologias aplicadas ao RH
Uma tendência forte para 2020 e os próximos anos é a revisão de processos e o uso cada vez maior da tecnologia aplicada ao RH. Se por um lado as empresas estão cada vez mais preocupadas em proporcionar boas experiências aos seus colaboradores como parte da estratégia de atração e retenção de talentos, por outro há mais processos padronizados e automatizados para garantir eficiência e gerar mais tempo para desenvolver iniciativas de employee experience.
Neste sentido, o uso de RPA (Robotic Process Automation, ou Automação de Processo Robótico) pode mudar a maneira como as empresas executam processos repetitivos e alocar os profissionais em tarefas que exijam maior discernimento. Já os mecanismos de chatbot, por sua vez, são ferramentas importantes e muito úteis para serem utilizadas em atendimentos de primeiro nível, que possuam características operacionais repetitivas (por exemplo: solicitação de férias do funcionário, ou um tira-dúvidas (FAQ) de RH). Além disso, o uso de softwares de análise de perfil comportamental, amplamente abrangentes, customizáveis e assertivos (como o Extended DISC, por exemplo) possibilitam à empresa contar com informações confiáveis que acompanham o profissional desde antes de sua contratação.
Essas condições permitem o suporte qualificado às tomadas de decisão que envolvem RH, baseadas em dados obtidos em tempo muito exíguo. Como diferentes sistemas de software têm a possibilidade de se comunicar, o RPA também pode coletar dados de funcionários de diversas fontes (Big Data) e verificar duas vezes a conformidade do RH.
Outra tecnologia cada vez mais em uso em RH é o emprego de Inteligência Artificial (IA). Entende-se por IA um conjunto de algoritmos que possibilita que os computadores “aprendam” com experiências e adquiram a capacidade de resolver problemas complexos. Isso significa que ele pode aprender algo sem intervenção humana direta. Em RH, existem alguns pontos bem pertinentes para aplicações de IA e machine learning, como em recrutamento e seleção (para identificar perfis de comportamento de candidatos), ou ainda, no cruzamento de informações para mensuração do clima organizacional. Felizmente, isso não significa que os robôs estão assumindo o nosso trabalho. Entretanto, o uso de Inteligência Artificial cria meios para fornecer mais tempo, mais capacidade, mais orçamento e melhores informações para tomarmos decisões importantes, nas quais os julgamentos do profissional humano sejam decisivos.
Ainda há outra tendência que ganha força no cotidiano de RH das empresas, e que em 2020 deve se intensificar: o uso de plataformas móveis nos processos de RH. De fato, o uso de celulares no trabalho, não como mecanismo para ligações telefônicas, mas como dispositivos para acesso a dados de qualquer lugar, torna a necessidade de RH também atuar no modo mobile. As mudanças no perfil de funcionários, com novos hábitos e necessidades, desaguam nas possibilidades de trabalho realizado nos mais diversos lugares: em casa, em trânsito, em escritórios compartilhados (coworkings) e assim por diante. Gerenciar RH considerando este novo paradigma demandará cada vez mais uma nova postura de gestão, e a tecnologia está aí para apoiar isso.
Se você atua em RH, é claro que não precisa dominar todas essas novas tecnologias. No entanto, precisa ficar de olho nelas e ter um bom entendimento de como elas afetarão a sua área de atuação e como poderão ajudar suas operações de RH.
Por falar em tecnologia, é importante destacar ainda a tendência do uso cada vez maior de People Analytics (Análise de RH), que envolve uma abordagem orientada a dados para identificar e analisar problemas relacionados às pessoas. Com a ajuda da People Analytics, os profissionais de RH podem combinar e analisar dados para descobrir informações novas e úteis. Isso permitirá o fornecimento dos dados necessários para a tomada das melhores decisões, baseadas em dados objetivos, em vez de intuição.
De fato, pouquíssimas áreas de RH estão tirando o máximo proveito de seus dados ou utilizando totalmente as ferramentas de análise de informações sobre colaboradores. Frequentemente, o uso indevido de dados pode ser atribuído a ferramentas difíceis de se usar ou simplesmente por que eles se perdem em um mar de informações desencontradas.
Quer saber como usar People Analytics de forma efetiva em RH, como por exemplo, saber os motivos de uma empresa ter alta taxa de rotatividade (turnover) de funcionários? Ao colocar os dados corretos em uso, a empresa pode descobrir por que os funcionários permanecem na empresa – ou até prever quando é mais provável que eles saiam – e encontrar uma solução acionável para reduzir a taxa de rotatividade.
As áreas de RH coletam dados há décadas, mas a maioria não os utiliza corretamente. Se a sua empresa ainda não usa dados de forma adequada, é hora de mudar esse quadro.
O “novo trabalho”
Por último, cabe a pergunta: você já está familiarizado com o conceito de “novo trabalho”? Trata-se de um termo que descreve um conjunto de tendências do mercado de trabalho que ganhou força nos últimos anos e deve se consolidar ainda mais em 2020 e nos próximos anos, entre elas trabalho remoto (home office), horários flexíveis, transparência e feedbacks constantes.
São tendências que refletem a maior participação da Geração Y, dos millennials, no mercado de trabalho. Nascidos no período entre os anos 1980 e início dos anos 2000, eles dominam as novas tecnologias com facilidade e valorizam a digitalização em todas as suas formas. Costumam trazer outras ideias e fluxos de trabalho para as empresas e valorizam novas maneiras de trabalhar.
O resultado desse novo cenário nos processos de RH é o uso cada vez maior de metodologias lúdicas de desenvolvimento, conhecidas como gamificação (inspiradas no universo dos games). Alinhada à busca do prazer relacionada ao trabalho, tão valorizada pela geração de millenialls, e já bastante difundida para uso em treinamentos, a gamificação ativa áreas do cérebro relacionadas a mecanismos de prazer e recompensa e, com isso, facilita a fixação de memórias de aprendizagem de longo prazo.
O uso da gamificação em outros processos de RH tem se revelando igualmente efetivo, tanto em processos de seleção, avaliação de desempenho e até planejamento, na medida em que se utiliza de recursos de games digitais para que os envolvidos usem comportamentos de forma mais genuína, sem margem para os filtros comportamentais mobilizados durante uma conversa ou entrevista, por exemplo.
Outra consequência natural desse processo é a demanda por um novo estilo de liderança, mais alinhado ao bem-estar e ao desenvolvimento pessoal, à autogestão, ao enpowerment e ao trabalho em equipe, além de processos ágeis e inteligência emocional. O uso de equipes multidisciplinares (squads), para lidar com a complexidade dos desafios das empresas faz que os líderes de tais equipes devam exercer menos o controle ostensivo e mais criar um clima colaborativo de trabalho, no qual o líder se adapte rapidamente aos novos contextos e aja como facilitador para que os resultados surjam do trabalho conjunto dos membros da equipe.
E você, que outras fortes tendências de RH identifica para 2020 e para os próximos anos? Diga aí nos comentários!
Luciano Lamb é mestre em Estratégia, especialista em RH, consultor da Sinerplan Estratégias para Pessoas e professor.